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Velocidade

 

Na velocidade da noite
plasmo em positivo
o barro-ouro horizontal
enquanto o azul dorme
em silêncio de planaltos e planícies.

O olho aceso na noite
é flash, vela, vagalume...
anti-relógio subversivo
flagrando a paisagem noturna.

O olho pardo-escuro
congela e eterniza nos segundos
vísceras de tempo e vida
como anjo-da-guarda solene
que estanca a sangria da ampulheta.

Na velocidade da noite
contemplar é festa sem ponteiros.
E a fotografia impressa
na retina do coração 
reinaugura o calendário ancestral

da lógica mística do amor.

 
Ítalo de Melo Ramalho

3.I.2017
7h30min

Elogio ao metal

Com mote de Manuel Bandeira 

no poema "O Bicho"

Frio e
denso:
ouro e prata.

Ouro das minas
de barro preto.

Prata da serra 
boliviana.

Cortar a carne
pelo miolo.
Sangrar o húmus
composto
e
decomposto.
Suster o esqueleto
oco do mundo
em caibros e ripas
sem vigas dispostas.
Cremar de cinza
o verde. 
Erguer silêncios
de luta, fome, fé...

Metal parasita. 
Flagelo orgânico.
Bússola da disputa.

A ti, consagro o meu canto desdém. 
E a teu irmão-líquido, Mercúrio,
as chagas, as feridas e
a necrose do tecido homem,
inquilino do bicho que fui.

Ítalo de Melo Ramalho 
6.I.2017

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