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Apófis

Na mitologia egípcia, Apófis é a serpente do caos. Por sua ligação com o mundo subterrâneo – aspecto tão presente nos poemas épicos, visto que são diversas as epopeias que narram a viagem de heróis e heroínas ao mundo dos mortos –, Apófis me pareceu a imagem adequada para dar nome à parte de Sessenta minutos que trata da batalha travada entre Paimutic e Pachamary. Vejamos o episódio descrito no livro Mitologia, que retoma algumas informações já trazidas em “Pachamary”:

"Durante o dia, Rá navegava pelo céu em sua barca solar. À noite, usava outra barca, junto com Set, o deus do caos, e Mehen, o deus-serpente, que enroscava o corpo ao redor da embarcação. Enquanto navegavam pelo Mundo Subterrâneo, Rá e seus companheiros eram atacados por demônios, liderados pela monstruosa serpente Apófis. Na hora mais escura antes do amanhecer, Apófis atacava com mais força. Todas as noites, Set atirava uma lança contra Apófis, e Rá, sob a forma de um gato, cortava sua cabeça. Assim, todos os dias o sol tornava a nascer" .(WILKINSON; PHILIP, 2008, p. 228)

Apófis também poderia, muito bem, ser parente de Jörmungandr, a “serpente do mundo” ou a serpente do mundo dos mortais, conhecido na mitologia nórdica (tradição da literatura Edda) como Midgard (WILKINSON; PHILIP, 2008, p. 124-125). Jörmungandr, de dimensões monstruosas, com os irmãos Fenrir, o Lobo, e Hel, a “rainha dos mortos”, são os responsáveis pelo caos em Midgard.

A opção por Apófis e a imagem do caos se explica pela percepção de que a Humanidade não alcançou ainda a visão de que Tempo e Poesia, quando se abraçam em relação sensível e criativa, geram a possibilidade de um mundo melhor. A tensão entre Paimutic, Deus do Tempo da Violência, e Pachamary, Deusa da Poesia, ao invés de afirmar uma oposição inexorável entre o Mal e o Bem ou o Bem e o Mal, quer justamente propor a transformação dessa dualidade em movimento harmônico em direção a um futuro melhor, digno da Era de Aquário.

Para representar Apófis em Sessenta minutos, corri Aracaju buscando uma imagem que pudesse representar a face-serpente de Apófis. E achei! Em um grafite, assinado por “South” (o que também me pareceu muito afinado com a concepção de Sessenta minutos, já que “South” é Sul e muitas das referências presentes no poema foram extraídas do contexto brasileiro e latino-americano) numa parede marcada pelo caos das vidraças quebradas de um prédio abandonado. Meio serpente meio dragão... Apófis transmite a sensação de intranquilidade e medo que a convivência com a violência e a aceleração do tempo trazem ao mundo.

Vejam, no final de Sessenta minutos, as referências que consultei para falar um pouco sobre esses mitos.

Christina Ramalho

(11/02/2021)

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